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quinta-feira, 27 de maio de 2010

O PASTORADO

Eu sei que a Escritura Santa traz ensinos profundos sobre a poimênica que não devemos, em absoluto, desprezar. Mormente quando olhamos para Jesus.

Todavia, falando sobre “Minha Filosofia Pastoral”, gostaria de fazer aqui algumas considerações que nasceram de uma experiência dialogal.

Recordo-me de uma conversa, entre Presbíteros de uma determinada Igreja, em que um deles, falando sobre a transição Pastoral de sua comunidade, afirmou: - Bem, temos que escolher um Pastor que tenha o perfil de nossa Igreja.

Confesso que, a princípio, me simpatizei com aquele irmão e entendi que sua colocação havia sido pertinente. Afinal de contas se fala tanto em perfil de um profissional para ocupar determinada posição dentro de uma empresa, porque isso seria diferente com respeito ao Pastorado?

Na verdade, como sempre acontece comigo, fiquei digerindo aquela conversa até que conclui se tratar de mais uma postura secularista do Ministério Sagrado.

O que dizer sobre o Pastorado se não aquela benfazeja agenda que está, de certa forma, tão bem exposta, no Manual Presbiteriano, mais precisamente na CI/IPB quando trata dessa questão no Artigo 36 em todas as suas alíneas que não me furtarei expor aqui:

Artigo 36 – São atribuições do ministro que pastoreia a Igreja:

Orar com o rebanho e por este;
Apascentá-lo na doutrina cristã;
Exercer as suas funções com zelo;
Orientar e superintender as atividades da Igreja, a fim de tornar eficiente a vida espiritual do povo de Deus;
Prestar assistência Pastoral;
Instruir os neófitos, dedicar atenção à infância e à mocidade, bem como aos necessitados, aflitos, enfermos e desviados;
Exercer, juntamente com os outros Presbíteros, o poder coletivo de governo.

Deixo aqui, de fora, o parágrafo único que trata de relatórios que o Ministro deve oferecer, de seus atos, ao Conselho e outros Concílios da IPB.

Aí está, em meu entendimento, o indicador do perfil de um Ministro Presbiteriano (e por que não dizer, Ministro de Cristo em qualquer denominação). E aqui há embasamento bíblico como veremos.

Orar com o rebanho e por este, é uma atribuição da qual o Ministro do Evangelho deve se oferecer como exemplo. Ministro que não ora soa paradoxal. Todo crente deve orar, não resta duvida, quanto mais o Pastor! O maior exemplo foi o próprio Cristo que nunca deixou de lado esse item tão indispensável em seu ministério Pastoral. Encontramos Jesus, exatamente no momento mais crucial de seu ministério terreno, orando, enquanto seus discípulos dormiam.

Assim, é mais do que uma questão de perfil é uma obrigatoriedade que crentes orem, quanto mais o Pastor. Oração é meio de graça e por isso deixar de orar é desprezar a graça que vem por esse meio.

Em “Minha Filosofia Pastoral” tenho olhado para essa questão e posso afirmar que nesses tantos anos de Ministério, os melhores momentos são aqueles nos quais mais oro.

A alínea “b” parece bastante genérica. Afinal de contas o que queriam, dizer os legisladores ao afirmarem: Apascentá-lo (o rebanho no caso em tela) na doutrina cristã?

Ora, apascentar é conduzir ao pasto com o objetivo de nutrir, alimentar a ovelha.

A questão primordial aqui é que o Ministro Sagrado deve apascentar as ovelhas do rebanho do Senhor com a Escritura que nutre a alma habilitando-a a viver em comunhão com Deus. A Bíblia aponta para o Salvador como nosso reconciliador e nos ensina o que devemos ser e fazer para nos relacionarmos bem com Deus.

Cabe ao Pastor nutrir a ovelha e não se nutrir dela, o que infelizmente muitos fazem hoje em dia. Cabe ao Pastor, e isso faz parte de “Minha Filosofia Pastoral”, ensinar a sã doutrina para fazer das ovelhas do Senhor, colocadas sob meus cuidados, ovelhas sadias. Por isso é preciso que o Pastor tenha o conhecimento de mestre e esse mestre, tenha o coração de um Pastor. Jesus, também nisso, é um exemplo a ser seguido por todos aqueles que se sentem vocacionados para o Sagrado Ministério.

Todo preparo e aprofundamento no estudo da Escritura, deve ser usado pelo Ministro como instrumento para expor com fidelidade aquilo que ele entende que as ovelhas necessitam ouvir. Mas o Ministro nunca pode se esquecer de que ele também é ovelha do Sumo Pastor e que sua prédica tem o inclui, ou seja, serve para ele, igualmente, assim como serve para as ovelhas sob seus cuidados.

O perfil de um Pastor, o que tem a ver com “Minha Filosofia Ministerial”, inclui, também, o zelo e o esmero com que ele deve cumprir suas obrigações e se desincumbir de suas atribuições. Fazer a obra do Senhor com descuido e de forma relaxada é algo que atrai o juízo de Deus.

O Pastor deve ser zeloso no cumprimento de suas obrigações. O Pastor deve ter como objetivo a excelência porque serve a um Deus cujos padrões são excelentes. Jesus foi um modelo de excelência. Ele agiu de acordo com aquilo que Deus o Pai, na eternidade, havia determinado para Ele. Jesus não recuou mesmo diante da tentativa de Satanás no deserto.

Um Pastor preguiçoso é um tédio no púlpito. Um Pastor relaxado é vazio de experiências para poder aconselhar. Um Pastor que não tem zelo no exercício de suas prerrogativas é presa frágil nas mãos do tentador, já que a cabeça vazia é mesmo uma excelente oficina do inimigo de nossas almas. É fácil ceder aos apelos da carne como fez Davi, quando somos desleixados no cumprimento dos nossos deveres.

O trabalho não deve assustar o Pastor porque não há nada mais terrível do que a sensação de inutilidade, não há nada mais terrível do que ficar enfermo e ser impedido de trabalhar.
Orientar e superintender implica em: estar presente, fazer uso de sua experiência eclesiástica para instruir e sugerir atitudes, provocar avaliação, animar os que se deixam desanimar, demonstrar disposição para retomar de onde outros pararam. Deve saber criticar e não pode deixar de lado o elogio sincero.

Um Pastor precisa ter tráfego livre em todos os segmentos que compõem a Igreja que Pastoreia, precisa ser acessível a todas as faixas etárias, deve tratar todos com isonomia, seja o rico, ou o pobre, o culto, ou o inculto e assim por diante.

Um Pastor não é um faz tudo, mas sim aquele que participa de tudo, se insere e oferece com humildade os seus préstimos. “Em Minha Filosofia Pastoral” o Pastor orienta, instrui e para isso precisa ser presente, se relacionar, estar atento e sempre ouvir com paciência.

Mas a poimênica implica também em instruir os neófitos, dedicar atenção à infância e à mocidade, bem como aos necessitados, aflitos, enfermos e desviados.

Os novos na fé (neófitos) precisam de atenção assim como os recém nascidos precisam de cuidados especiais. Em “Minha Filosofia Pastoral”, e olhando para esse Artigo 36 reafirmo aquilo que escrevi linhas atrás, ou seja, o Pastor deve estar atento às crianças, à mocidade, tão repleta de desafios, aos necessitados, aos aflitos, enfermos e desviados procurando propor caminhos com os quais a aflição, a dor da enfermidade e principalmente os enfermos espirituais, encontrem o caminho de volta para a comunhão. O Pastor precisa manter as ovelhas saudáveis no aprisco e ir até aquela que se extraviou e não economizar esforços para trazê-la novamente para o convívio com os demais irmãos.

Mas, olhando para o Artigo 36 e tomando-o como ponto de partida para compreender qual é, realmente, o Perfil de um Pastor, encontramos essa sugestão tão importante:

Exercer, juntamente com os outros Presbíteros, o poder coletivo de governo.

Infelizmente, o que ocorre, por várias razões e motivos, é que o Conselho toma as decisões, mas é o Pastor da Igreja que é responsabilizado.

Não cometo o equívoco da generalização. Hoje há uma quantidade muito maior de irmãos mais conscientizados sobre o que consiste o governo presbiteriano, mas ainda há um bom número de irmãos que comete esse equívoco, ou seja, confundir o Pastor com o Conselho.

O poder no regime Presbiteriano de governo, é coletivo e está sob a responsabilidade do Pastor, que é o Presbítero Docente, juntamente com o Presbítero Regente. O Artigo 52 doutrina: “O Presbítero tem, nos concílios da Igreja, AUTORIDADE igual a dos ministros.

Na verdade quem Pastoreia a Igreja é o Conselho, já que a autoridade e o poder é coletivo e composto por Presbíteros Docentes mais os Presbíteros Regentes.

Portanto, a saúde espiritual de uma Igreja, a boa performance na administração de seus recursos financeiros, a equânime distribuição de tarefas, as decisões judiciais, a escolha dos procedimentos pedagógicos e didáticos, um bom trabalho de visitação, uma boa participação nos Concílios da Igreja (Presbitério, Sínodo e Supremo Concílio), são, por exemplo, responsabilidades de um Conselho e não apenas de um Pastor. Em "Minha Filosofia Pastoral" não há espaço para decisões unilaterais, individuais e tampouco qualquer ranço de autoritarismo da parte de qualquer Pastor ou Presbítero Regente.

Houve um tempo em que alguns Pastores, por seu aporte intelectual, experiência Pastoral e magnetismo pessoal, subtraiam o Conselho de tal maneira que realmente as decisões eram tomadas sob seu prumo.

Também há, infelizmente, a compreensão equivocada de que o Conselho só é composto por Presbíteros Regentes e que eles são assim como sócios majoritários de uma micro empresa e o Pastor é apenas um diretor de luxo do qual eles podem dispor e indispor a bel prazer.

Na escolha de Pastor a questão do Perfil deve estar atrelada, isso sim, ao cumprimento do que preceitua esse Artigo 36. É óbvio que há questões de regionalidade, culturais, que devem ser ponderadas no momento em que um Conselho, fincado naquilo que preceitua o Artigo 83, alínea “e” irá definir aquele ou aqueles que deverão assumir a poimênica da comunidade colocada sob sua responsabilidade. Mas o perfil de um Pastor está, no referido artigo, delineado de forma suficiente.

Cabe a nós Pastores, estar atentos ao exemplo maior de Pastoreio que foi nosso Redentor. Nele encontramos aquilo que esse Artigo 36 doutrina. Em Jesus vemos um Pastor que orou incessantemente por suas ovelhas e com elas, foi zeloso ao extremo, orientou seu discípulos e treinou-os com eficiência, prestou assistência a todos ao seu redor, instruiu, orientou, e soube dividir responsabilidades.

De todas as qualidades vistas em Cristo, como Supremo Pastor, além do amor imensurável por suas ovelhas, temos também a sua postura humilde, principalmente nos momentos mais críticos de seu ministério terreno. Dele ouvimos e devemos atender: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”.

Que Deus abençoe você no seu Pastoreio.

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